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O Peso das Palavras em Psicanálise - Parte Final

  • Gildeisa P. SIlva
  • 28 de mar.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de abr.

" E, para finalizar, sem concluir ... "

 

Peso das palavras na psicanalise
Confraria de Nós - Psicanalise

PARTE FINAL


Desde sempre na história do homem, antes mesmo do surgimento do mundo das palavras o ser humano tem necessidade de comunicação. Essa comunicação é talvez o que o ser humano tenha de mais antigo e imperioso. O bebê na relação com sua mãe, que Freud chamou de relação fusionada, é necessário que essa mãe comunique com esse bebê. É um processo mediado pela linguagem da mãe e pela linguagem do bebê mesmo antes dele possuir o domínio das palavras. O bebê aprende as palavras primeiro relacionando-as com os gestos, quando a mãe fala com o bebê, ela faz gestos, antes mesmo de dominar o reino das palavras os bebês humanos dominas através da observação o reino dos gestos.

 

O infans é aquele que ainda não fala com palavra, mas ele fala com seu olhar, com os movimentos peristálticos de seu aparelho digestivo, com os movimentos de abertura e fechamento da boca, com o sorriso, com o choro. A comunicação é o mais primitivo no homem, nós nascemos com uma demanda, com uma necessidade de nos comunicarmos.

 

A comunicação humana, disse Freud se inicia na relação recíproca da mãe com o bebê, através da sensorialidade, visão, audição, olfato, tato, paladar, a motricidade, assim como de sensações afetivo-emocionais que um desperta no outro, em especial no momento simbiótico da amamentação. Uma mãe que tenha uma boa capacidade de comunicação com seu bebê, sabe discriminar os diferentes significados que estão embutidos nos sinais emitidos por seu filho. Assim, também cabe ao analista, buscar uma escuta sensível de todas as formas de comunicação produzidas pelo seu paciente, sejam elas permeadas ou não pela palavra. Quando uma mãe dá luz a um bebê seu cérebro aumenta de tamanho, principalmente nas áreas ligadas ao foco, atenção, ao controle, a memória, a regulação das emoções, porque esse cérebro precisa cuidar de um ser desamparado que é o bebê, nessa relação há uma experiência de comunicação que não é mediada completamente pela palavra mas que é atravessada pela representação palavra.

 

Em 1915, com o artigo “O inconsciente”, Freud apresenta as duas formas de como o ego representa as sensações que estimulam a criança, ou seja, como o aparelho psíquico recebe e processa os estímulos que lhe são apresentados, que foi denominado como representação coisa e representação palavra. Onde temos na representação coisa a chamada linguagem por meio de sinais, que expressam sensações emocionais e corporais primitivas enquanto na representação palavra o sujeito já tem acesso ao sistema pré-consciente consciente sob a forma de palavras simbolizadoras, ou seja, é uma linguagem simbólica.

 

A psicanálise nasce como método de interpretar o psiquismo, de interpretar o inconsciente do homem, de interpretar as condutas humanas, de interpretar os afetos que tocam a alma do homem. Nasce como método de tradução do inconsciente, de decodificação dessa língua estrangeira que é o inconsciente. Ao longo da vasta obra de Freud, ela também traz como aporte a ideia de que psicanálise serve para interpretar o homem, mas psicanálise também empresta à construções e reconstruções desse psiquismo. A palavra não é um ferramenta é a própria matéria, a linguagem não e um instrumento é a própria matéria a ser trabalhada.

 

Dessa forma, a palavra que é veiculada em análise, toma como condutor o analisando, e o faz caminhar, abraçado pelas próprias palavras, foi isso o que aconteceu no meu percurso de análise, abraçada pelas minhas palavras, comecei a ler o que já estava escrito em mim. É lindo isso que a análise nos permite, encontrar conosco, se em(cantar), se espantar, e seguir em frente na construção e (re)construção da nossa história. O processo de análise é um processo de travessia, mediado pela palavra, é a tradução daquilo que foi escrito na carne e lá estava como não dito. A-COR-DAR entrelaçada pelo fio que sutura o amor que é o desejo.

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