O Peso das Palavras em Psicanálise - Parte 3
- Gildeisa P. SIlva
- 28 de mar.
- 3 min de leitura
Atualizado: 7 de abr.
“O inconsciente é, em seu fundo, estruturado, tramado, encadeado, tecido de linguagem" Lacan
PARTE 3
Desse modo, assim como deslocamento e metonímia, condensação e metáfora são processos análogos. A diferença é que, na substituição de um significante por outro, o último par funciona a partir do estabelecimento de uma relação de similaridade: um conteúdo significante é substituído por outro conteúdo semelhante que representa, por si só, várias cadeias associativas. O inconsciente estruturado como linguagem funciona de acordo com um conjunto de regras, sobre as quais não possuímos nenhum tipo de controle, determinadas de acordo com a articulação simbólica estabelecida entre os elementos da cadeia significante. A identidade de cada elemento é determinada pelo sistema de relações estabelecidas entre eles: "ora a estrutura do significante está, como se diz comumente na linguagem, em ele ser articulado" (LACAN, 1957/1998).
O inconsciente opera segundo uma lógica determinada. Por ser estruturado como uma linguagem, sua lógica deve ser delimitada pelos mecanismos intrínsecos ao funcionamento desta. Ora, é por meio do estruturalismo linguístico e antropológico que Lacan buscará elucidar tais mecanismos na sua proposta de retorno a Freud, que os conceitos freudianos só podem adquirir pleno sentido por estarem dispostos num campo específico - o da linguagem - e por "se ordenarem na função da fala". Lacan (1998), em seu texto Função e campo da fala e da linguagem em psicanálise, acentua ainda mais o papel da regra fundamental como ferramenta essencial do tratamento. (LACAN, 1953/1998)
Posto ainda de outro modo, “o inconsciente é, em seu fundo, estruturado, tramado, encadeado, tecido de linguagem” (LACAN, 1999), fórmula que, simplificada para “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”, se torna clássica e é reproduzida inúmeras vezes em seus seminários e textos. É nesse sentido que Lacan (1972-1973) no seminário 20, Mais ainda afirma que “o inconsciente é estruturado como os ajuntamentos de que se tratam na teoria dos conjuntos como sendo letras”. (LACAN, 1982)
Assim, pode-se perceber que a palavra se faz presente o tempo todo em nossa vida cotidiana, ela está inserida na linguagem, que nos auxilia a traduzir o mundo, assim como ela cura, ela também pode nos adoecer. Lacan diz que as doenças são palavras não ditas, não reveladas, não traduzidas. Dessa forma já posso responder que sim, a palavra tem um peso, pode ser peso pena ou peso pesado. Na psicanálise diria então que ela é 100% instrumento do analista e do analisando. A experiência analítica é uma experiência do discurso. Haja visto a contribuição de Lacan para retomar elementos da linguística estrutural e abordar o inconsciente enquanto estruturado como uma linguagem. A Função e campo da fala e da linguagem em que Lacan diz que a linguagem não comunica uma mensagem, a linguagem comunica um sujeito. (LACAN, 1967-1968)
Para Lacan se as palavras falam mais do que a fala cotidiana é porque a linguagem equivoca, essa equivocação generalizada, como na experiência de ler poesia, que as palavras tem o poder de dizer duas ou mais de duas coisas ao mesmo tempo, justamente porque elas são faladas, tem a ver com a sonoridade das palavras, é nesse sentido que as palavras podem dizer mais que as palavras, as palavras escutadas por um analista, e recuperadas, quando o mesmo pontua uma palavra, marca o texto do analisando, ela pode ecoar de forma inédita, isso não aconteceria na fala corriqueira, do dia a dia. Dessa forma o analista atua no processo como sujeito suposto saber, onde há a possibilidade de auxiliar o sujeito a acessar o seu próprio saber. O sujeito que sofre sabe, ele sabe de si, só não sabe que sabe, por isso pensa que não sabe. Cabe ao analista auxiliar o sujeito nessa travessia de saber, com sabor, ainda que seja amargo. A experiência analítica é uma experiência do discurso, por isso é imprescindível a escuta analítica, ajustar o ouvido psicanalítico para auscultar o sujeito do inconsciente.
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