top of page

O Peso das Palavras em Psicanálise - Parte 5

  • Gildeisa P. SIlva
  • 28 de mar.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 7 de abr.

“Falar na palavra é também falar no silêncio porque além de se constituir como objeto de interesse da psicanálise, o silêncio é antes de mais nada, um elemento da comunicação"

 

O pesa das palavras na psicanálise
Confraria de Nós - Freud Psicanalise

PARTE 5


O que pretende a psicanálise é que o sujeito, não se defina pelo seu sintoma, mas que possa ser para além dele, o menos alienado possível. Isso vai além de um tratamento, a psicanálise ajuda o sujeito a refletir sobre a vida e sobretudo sobre os impasses da vida. O analista de alguma maneira está ali diante deste sujeito que sofre para ajudá-lo a suportar, é dentro deste dispositivo analítico, enovelado pelo laço transferencial, que o paciente, ao dirigir ao analista como Outro, imagina supor um saber sobre si, esta é a ancora, e assim torna possível nomear como cura.

 

A psicanálise entende que o sujeito na vida, de uma forma ou de outra, carrega algum sofrimento, estar em análise é estar em contato com isso, há sempre um limiar entre consciente e inconsciente e, esse sempre retorna. O sujeito da psicanálise é o sujeito do inconsciente, é o sujeito que se assujeita a alguma coisa, que se assujeita ao Outro.


A psicanálise inclui o sintoma, a angústia, a perda, como próprio do humano e não tem a pretensão de extinguir ou mesmo curar essas dores. A aposta da psicanálise é nos deslocamentos, nos esvaziamentos de gozo e na possibilidade de reinvenção de um novo sujeito. Assim, não se trata de curar o sujeito, o que há é a possibilidade de se relacionar de outro modo com o próprio sintoma.

 

E o que pode a palavra? Gosto de pensar que há várias formas de comunicação, não como conceitos porque fecham o significado, mas como metáforas, pois abrem para muitas possibilidades. Dentro deste contexto a palavra pode tudo, pode até ser interpretada através da sonoridade que veicula a fala. É o que acontece com os sujeitos cegos. É quando falamos com bebês?  Não é a palavra que ele ouve e sim o que ela veicula. É um processo anterior à fala, passa pelo olhar, pelos gestos e movimentos, acontece como uma música da linguagem. A palavra também pode se fazer presente no desejo do analista em promover um espaço em que as palavras poderão dar contorno aos afetos e o silencio ser escutado. A linguagem é que possibilita o sujeito entrar no simbólico.

 

Falar na palavra é também falar no silêncio porque além de se constituir como objeto de interesse da psicanálise, o silêncio é antes de mais nada, um elemento da comunicação que se faz presente em qualquer ato comunicativo humano. O silêncio está sempre presente numa sessão de análise, e seus efeitos são tão decisivos quanto os de uma palavra efetivamente pronunciada. Silenciar é ouvir o que reverbera dentro de nós. O silêncio representa também e principalmente uma entidade teórica fundamental; dentre todas as manifestações humanas, ele continua sendo aquele que, de maneira mais pura, melhor exprime a estrutura densa e compacta, sem ruído nem palavra, de nosso inconsciente próprio.

 

Saber silenciar quando a ocasião o exige é em definitivo, uma maneira de lembrar, ou ainda melhor, de mostrar o silêncio do inconsciente. Calar-se quando necessário significa, portanto, o inconsciente é antes de tudo um “discurso sem palavras”. Escutar para além dos relatos, permite um espaço para o outro extravasar a dor. É como escutar o inaudível, o que não produz som, assim como a dor, a cólera, o sofrimento psíquico, escutar o que ainda não pode ser nomeado. Apostar nesse encontro, isso é transformador, e é possível através da palavra.

Comentários


bottom of page