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O Peso das Palavras em Psicanálise - Parte 2

  • Gildeisa P. SIlva
  • 28 de mar.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 7 de abr.

“A ciência moderna ainda não produziu um medicamento tranquilizador tão eficaz como o são umas poucas e boas palavras.” Sigmund Freud

Confraia de Nos - Peso das Palavras na Psicanalise
Confraria de Nós - Psicanalise

PARTE 2


O que pode a palavra, pode ser observado no caso de Anna.  O paciente de Breuer, ao empregar o termo “limpeza de chaminé” ao referir-se ao tratamento que lhe foi dado por meio da palavra. Segundo Peter Gay (1989), um dos motivos que fizeram de Anna O. uma paciente tão ilustre refere-se ao fato de que ela realizou sozinha grande parte do trabalho de imaginação. Considerando a importância que Freud atribuiria ao dom da escuta do analista, é cabível considerar que a paciente tenha contribuído para a formação da teoria psicanalítica, tanto quanto Breuer, ou o teórico Freud. Mais tarde Breuer alegou que o tratamento desta paciente continha “a célula germinativa do conjunto da Psicanálise”. Foi a partir das conversas com Breuer sobre este caso que, para Freud, ouvir tornou-se um método, uma via privilegiada para o conhecimento, a qual as pacientes lhe davam acesso. (PETER GAY 1989, p.80).

 

Outra importante contribuição foi a paciente de Freud, Sra. Emmy, em uma das sessões, ela própria sugeria que ele a deixasse falar sem interrompê-la com perguntas. Freud percebe que deve deixá-la falar livremente, Segundo Peter Gay (1989), foi essa paciente que permitiu a Freud ver que a hipnose era de fato “inútil e sem sentido”. Até o início dos anos 90 do século XIX, Freud tentara extrair, à maneira de Breuer, através da hipnose, as lembranças significativas que os pacientes relutavam em apresentar. As cenas trazidas à mente tinham frequentemente, um efeito catártico. Mas, alguns pacientes não eram hipnotizáveis e a fala sem censuras pareceu a Freud um meio de investigação muito superior. Ao abandonar, aos poucos, a hipnose, Freud caminhava para a adoção de um novo modo de tratamento. Delineava-se a associação livre que, nos anos posteriores, passou a ser considerada a regra fundamental da Psicanálise. Segundo Freud, a livre associação permitia atingir com maior facilidade os elementos que estavam em condições de liberar os afetos, as lembranças e as representações. (PETER GAY 1989).

 

Freud (1900) na Interpretação dos sonhos, nos fala da associação livre como um imperativo, uma lei principal, regra do dispositivo analítico. “Fale tudo o que vier à cabeça!” Tal lei é promulgada e constitui a base de uma experiência porque está sustentada na concepção de que, ao se entregar a uma fala desgovernada, o paciente não dirá qualquer coisa. O aparente absurdo do encadeamento de imagens de um sonho, os tropeços e equívocos da fala num momento do discurso, a evocação de lembranças que não guardam nenhuma relação com o conteúdo do que estava sendo dito, mas que, num instante preciso, irrompem no pensamento do analisante, são alguns exemplos de fenômenos que Freud (1900) avalia. A partir de uma consideração preliminar sobre a ordem de aparecimento desses eventos, Freud (1900) é claro ao considerar que existe uma causalidade que os determina. (FREUD, 1900 p.135-136)

 

O ‘Fale tudo’ aponta, consequentemente, que todo o dito e todo o não dito pelo paciente no curso de sua análise são relevantes. A importância conferida a tudo o que se diz num 'setting' clínico, bem como a tudo o que é silenciado, deve ser acompanhada, para um cientista, da seguinte formulação: ‘Tudo o que você disser tem uma causa’. Estamos no ponto paroxístico da razão, que busca, nos efeitos da fala - quaisquer que sejam eles e por mais estranhos e desarticulados que sejam suas formas de aparecimento -, as leis que estruturam as causas subjacentes ao pensamento inconsciente. (FREUD, 1905)

 

Freud (1901/1990) já havia proposto que os processos oníricos que transformam o material latente em produto manifesto são os mecanismos de condensação e deslocamento. O primeiro concentra em uma única representação a fusão de diversas ideias inconscientes e o segundo dissimula a importância, o interesse e a intensidade de uma representação, transferindo-a para uma série de outras representações ligadas à primeira por associação. No sonho da ema, a transformação do conteúdo latente em manifesto se dá por deslocamento, isto é, por meio do deslizamento associativo mãe/ema: basta trocar a posição das letras para que o elemento primordial do material latente, mãe, seja representado por uma ave, ema, no nível manifesto. Esta substituição de um significante por outro é estabelecida através de uma relação de contiguidade, característica principal do processo metonímico que, ao lado do processo metafórico, é considerado um dos principais mecanismos do funcionamento da linguagem: "de forma geral, o que Freud chama a condensação e deslocamento é o que Lacan denominou metáfora e metonímia" (LACAN, 1956-1957/1995).


Desse modo, assim como deslocamento e metonímia, condensação e metáfora são processos análogos. A diferença é que, na substituição de um significante por outro, o último par funciona a partir do estabelecimento de uma relação de similaridade: um conteúdo significante é substituído por outro conteúdo semelhante que representa, por si só, várias cadeias associativas. O inconsciente estruturado como linguagem funciona de acordo com um conjunto de regras, sobre as quais não possuímos nenhum tipo de controle, determinadas de acordo com a articulação simbólica estabelecida entre os elementos da cadeia significante. A identidade de cada elemento é determinada pelo sistema de relações estabelecidas entre eles: "ora a estrutura do significante está, como se diz comumente na linguagem, em ele ser articulado" (LACAN, 1957/1998).

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